Padre Modino – Amazônia
Caminhamos quando a esperança se torna o motor que nos leva a seguir adiante. Isso porque “a esperança não engana”, uma afirmação que o apóstolo Paulo faz na Carta aos Romanos, e que está presente nas primeiras palavras da Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025. Nós podemos afirmá-lo porque são muitos os sinais que Deus coloca em nossa vida cotidiana que nos levam a enxergar sua presença como Aquele que gera esperança.
A missão fonte de esperança
Se tem algo que gera esperança, isso é a missão, pois é na missão que a Igreja anuncia a Boa Nova, possibilitando que as pessoas possam se encontrar com Aquele que é fonte de esperança para toda a humanidade: o Deus que se encarna em Jesus Cristo, Ele é a nossa esperança. Mas também o missionário descobre sinais de esperança na prática missionária, naqueles com quem partilha a vida e nas situações com que se depara em sua missão, que é um gerador de esperança para todo batizado.
A missão na Amazônia é fonte de esperança, nesse território e nas pessoas que o habitam encontramos sinais de esperança que nos levam a entender que nos tornarmos testemunhas da mensagem de Jesus Cristo hoje vale a pena, pois sua proposta continua gerando vida plena na existência de pessoas concretas, que encontram nessa proposta um motivo para plenificar suas vidas e para disfrutar com o que eles são, com o que eles vivem, com o que eles experimentam em seu cotidiano.
Sentir que nada falta
Em uma sociedade onde muitas pessoas perdem a esperança de viver diante de qualquer imprevisto que lhes leva a ficar sem uma pequena parte do que eles têm, é um sinal de esperança que em uma comunidade indígena no meio da floresta, muito distante de lugares onde muitos consideram se encontra o necessário para ser feliz, alguém que, seguindo os parâmetros ocidentais, seria considerado pobre, inclusive paupérrimo, ele diga abertamente, convencido do que ele vive: “aqui temos de tudo”.
São palavras que nos lembram o pensamento de Santo Agostinho: “é rico quem pouco necessita”. A falta daquilo que dizemos necessitar gera desesperança na vida de muitas pessoas, que não se conformam com aquilo que tem, gerando um sentimento de ter sempre mais, de pensar que necessitamos mais para sermos ricos. Aprender a disfrutar com aquilo que cada um tem deveria ser nossa esperança, e isso algo que vamos descobrindo na missão na Amazônia.
Partilhar como princípio vital
Um sentimento que leva a partilhar tudo o que eles têm, seguindo a atitude da viúva do Evangelho que dá tudo o que ela tinha para viver. Um exemplo disso aconteceu numa das comunidades mais distantes em que a Igreja católica se faz presente na Amazônia, quando uma mãe partilhou a janta da família com os missionários que chegaram na comunidade e que não tinham podido avisar dessa chegada. Sem pensar, a mãe de família ofereceu tudo o que ela tinha preparado para sua família jantar naquele dia.
Essas atitudes geram esperança na medida em que vamos descobrindo que existem pessoas dispostas a assumir o Evangelho na prática, colocando o que eles têm, seja muito ou seja pouco, a dispor dos outros. Encontrar essas pessoas no trabalho missionário é motivo para agradecer a Deus por ter nos enviado, mas também por nos ajudar a entender que na missão todos somos evangelizados na medida em que vamos descobrindo a presença de Deus no meio de nós.
Escutar para compreender
Ser missionário na Amazônia é partilhar a vida, dividir o caminho com os outros, se fazer presente na vida das pessoas para escutar e assim compreender seu sofrimento, as também reconhecer que na cotidianidade Deus aparece de muitos modos. Gastar o tempo e gastar a vida, sem olhar o relógio, sem medir o esforço que muitas vezes representa chegar até as comunidades mais distantes, surcando as águas durante horas, durante dias.
A missão, seguindo a proposta do Sínodo para a Amazônia, tem que estar marcada pela presença, tem que ser muito mais do que uma visita rápida. O que marca a vida das pessoas é o encontro gratuito, “perder o tempo” com elas, além de qualquer atividade regrada. É nesses momentos que são partilhadas as esperanças, os sonhos, as alegrias, os desafios, os sofrimentos, tudo iluminado por Aquele que perpassa o tempo e a vida de cada um e cada uma de nós.
Ir até aqueles que para muitos não existem
A missão na Amazônia, especialmente nas comunidades mais distantes, nos leva até aqueles que para muitos não existem ou são vistos com prejuízo, com um olhar que não responde à realidade. Somos desafiados a chegar até eles e nos introduzir em um modo de vida que nem sempre corresponde com nossos padrões, com nosso modo de entender a realidade. No final das contas, a esperança vai além de um conceito, é algo que vai se tecendo com os outros, pois é algo que se alimenta com aqueles que também sonham com a gente.
Uma esperança que vai ligada à misericórdia, que aparece quando transitamos entre os pequenos, quando nós nos fazemos pequenos. Nos sentirmos pequenos, necessitados do amor de Deus, nos leva a entender o sentido da misericórdia como caminho de esperança. Sinais disso encontramos na missão, quando essa missão nos levar a fazer opção pelos últimos, por aqueles que sempre ficaram na beira da história. Não podemos esquecer que o Jubileu era tempo de trazer de volta ao caminho àqueles que as circunstâncias da vida tinham colocado às margens.
Uma esperança que transcende nossa vida
A esperança brota de dentro de cada um e cada uma de nós, e se torna verdadeira quando ela transcende nossa vida, quando não fica presa na gente, quando estamos dispostos a sair de nós e testemunhar àquele que fundamenta nossa vida, que movimenta nossa existência, que nos leva a viver em movimento, como peregrinos da esperança. Essa esperança movimenta a missão, pois só movidos pela esperança estamos dispostos ir além e superar os desafios que a missão nos coloca em frente.
Uma esperança que sobretudo descobrimos nas pessoas, em rostos concretos. São muitos esses rostos, sempre diferentes, mas sempre intrigantes, que nos levam a nos questionarmos até que ponto conseguimos que através da nossa vida Deus possa se fazer presente na deles. Eles nos levam a nos perguntarmos sobre os passos a serem dados para levar Deus até eles, mas também a necessidade de abrir os olhos, os ouvidos, o coração, para perceber que Deus já está nessas pessoas, nesses espaços, nessas realidades.
A missão nos leva a sair de nós, a percorrer um caminho, não só exterior, mas também interior. Missão é se deslocar até as pessoas, até espaços que geram esperança em nós. Não tenhamos medo de dar esses passos, experimentemos a vida missionária, vamos descobrir nela aquilo que não pode faltar se queremos vivenciar aquilo que nos dá sentido em todo momento: a esperança.